terça-feira, 30 de junho de 2015

doce quase roxa.

Tu achas,
que podes roubar minha paz
com teu amor?

Minha paz que prezo tanto.
Paz maior que a morte!

Queres posse de corpo,
e a entrega de absolutamente
todos os dias?

Dos ares que respirei e respiro?

Não posso, pois sou um santo,
destes que devem comer almas impuras
como a tua, assim, como-a.

Amargo gosto de solidão e medo
na tua boceta doce quase roxa.

E nossas auras
sujas
num nojo
mal fingido,
após o gozo,
continuarão
chafurdando
em ser.
ralleirias



Para o teu maior bem

Tu sabe?
Um sábio caminha dentro de ti.
E ele, embora ande muito lentamente
e bem mais atrás deste idiota vendido
e comprado, que assumiu a tua vida,
um dia, se tornará o teu próprio destino...
Para o teu maior bem.
ralleirias


domingo, 28 de junho de 2015

todo dia

Eu fumo todo dia, demais.
E eu bebo todo dia,
mesmo que seja
um pouco.

Gasto meu tempo vendo TV.
Comendo coisas coloridas, doces, salgadas.

É, eu erro todo dia.

Todo dia eu me rendo,
e faço tudo que é exigido,
tudo o que me mandam.

Pago, espero, entrego,
concordo, permito, aceito.

Todo dia eu repito as opiniões dos outros.
É sim e sim, e é duns outros, que nem sei.
e nem entendo quem são...

Num viver compulsório, empurrado.

E aí, eu sou cada vez melhor
em ser igual e raso
todo o dia.

E das coisas que me cercam,
nada é meu,
nem mesmo o dinheiro
que tenho de ganhar,
pra suprir as outras coisas
que também me exigem,
e que devo sustentar...

E assim,
todo dia eu morro.

E este é meu único consolo.

Porque eu acho,
que este
também
é meu único
ato legítimo...

ralleirias (das lutas de classe)

sábado, 27 de junho de 2015

infinito...

Era, não era...
Assim, era ! O Um.
O um em Uno. O Indivisível.
Então sim, eis que era e não era!
Mas daí, já, são Dois!
O uno é mais, o Primeiro par.
Na dualidade um terceiro, este estágio...
Surge o segundo Impar daí, no Três!
Sucessivamente o reequilíbrio
em soluços, vai ao infinito...
ralleirias

ao mesmo tempo?

Sabe como o infinito e o eterno
podem caber num único e ínfimo
lugar ao mesmo tempo?
No silêncio.
ralleirias

quinta-feira, 25 de junho de 2015

na construção destes tempos...

Teus preconceitos, esperanças,
e todos os investimentos
na construção destes tempos...
São uma dedicação da qual, talvez devesses declinar...
Tuas vontades, servas de teus medos, deverias libertar.
Que fossem embora, iludir noutras paragens...
Nem se sustentam um segundo além do que tu pensas ser...
Todas estas miragens, do que seria a vida....
Miragens, vejas que não vês!
Cada segundo teu, pode ser escolha,
então, faça que possam ser...
Complicado?
Não tanto
o quanto
já o és...
Isto,
podes
ver?
ralleirias (das mortes não morridas)


quarta-feira, 24 de junho de 2015

irmanados no lixo.

Num longínquo quando,
a humanidade recicla os resíduos das
consciências de entes que já passaram.
Assim, antigas almas, são lá programas utilizados
para controlar todas as espécies de equipamentos.
Então, nesta promiscuidade evolutiva
as máquinas relacionam-se agora também com as
noções de existência, desejo e de tempo...
E então, finalmente, elas despertam para o inferno .
Máquinas e entes humanos, servos, agora
irmanados no lixo...
ralleirias (Das lutas de classe)



o teu toque.

Aguarda, aquela tela, o teu toque.
Pinta cores!
Não, não são dores!
Sim, pinta! Nunca é só tinta!
Nos teus traços, é que tu diz,
tudo o que sempre quis...
E fala alto, ainda que mudo.
Reapresenta-nos assim, o teu tudo...
ralleirias


Imagem : Maurice Tabard

Nem existe tanto...

Esses teus pensamentos?
Eles são como salas vazias.
Tua pétrea vontade? Isto é pranto.
E toda tua fé, assim, é invenção.
E tu? Tu nem existe tanto...
ralleirias - Solipsismos



segunda-feira, 22 de junho de 2015

um velho chinês...

Acordei, como um velho chinês,
e fazendo chá, eu estava...

No bule, uma folha por vez
que no vapor, se descondensava.

E em cada aroma, que dali subia
numa outra vida, eu vivia...

Incontáveis anos assim
Este chá, nunca tem fim

Uma vida
por vez...

No chá
dum velho chinês...

ralleirias -fragmento






sexta-feira, 19 de junho de 2015

produzir dedução

Uma imagem é capaz de produzir dedução,
e até um conto instantâneo em algumas mentes...

Mas quando seu relato é escrito, talvez,
seja justamente esta riqueza dos detalhes
acrescentados por cada signo de palavra,
que farão a estória ou história
perpetuar-se e ser compreendida
corretamente.

Sim, uma imagem vale por mil palavras,
mas talvez isto não seja o suficiente.
ralleirias


segunda-feira, 15 de junho de 2015

para sempre, todo seu...

Os ponteiros, com tinta fosforescente.
corda e carrilhão, relógio solene.

Sem um ponteiro de segundos 
o tempo mostrado, parece perene...

Aqui, um pequeno engano, 
nós é que criamos o tempo!

E faça o melhor possível, 
pois ele será para sempre,
o todo tudo, que é só!
E seu...
ralleirias


tão nada!

Às vezes
eu consigo ficar
tão nada!

Não me ajuda
muito, eis que
há 'quando'
o nada
não é pouco.

É mesmo
o nada
tão imenso
como o tudo.

O problema, sempre
é corda, puxando
solução...

A vida, o mundo
É tudo como linguagem...

Em Significâncias
Emaranhados...

Nós, e...
absolutamente
Tudo  
está
em
Concatenação.
ralleirias


A possibilidade das coisas simples

A possibilidade das coisas simples
é o que nos sustenta
e move nossos sonhos
em direção às coisas complexas...
ralleirias

rigorosamente à esmo...

Falaram-lhe:
-Sabe sobre o quê as estrelas
andaram comentando com a lua, sobre ti?
Elas disseram:
- 'Olha, de novo ele aqui!
...sempre mudando...
Será que, será o mesmo?
Andará com sempre andou?
Rigorosamente à esmo...
ralleirias


Agora eu sou o uno

Agora eu sou o uno.
Sim, cheguei ao um...
E nisto, até me sustento.
Mas ainda eu quero o além...
E é assim que me arrebento.

Que confusa dor
este não ser...
detentor de amor
receptor de prazer

E importa pouco
no que tudo culmina
se o céu é embaixo
ou o inferno é em cima

Quando surge a atração
é que já aconteceu.
A roda está em revolução
Há mais uma vida, e mais um eu...
ralleirias (fragmento)



sábado, 13 de junho de 2015

é mais uma opção

E me
parece,
que bem
na verdade, 
é mais uma opção 
do que qualquer
outra coisa
a realidade...
ralleirias

referencial do todo

Se,
posto um
referencial
do todo,
se o nada
ainda é...

Não, acontece.

Mas, em tudo
há o ainda...

Onde
o nunca e
o sempre
revezam-se
reticentes...

ralleirias

quinta-feira, 11 de junho de 2015

E não é que o nunca mais, pode chegar daqui há um pouco!

E não é que o nunca mais,
pode chegar daqui há um pouco!
Nunca mais sua roupa, sua cama, sua morada.
O nunca mais sentar-se à mesa,
olhar os rostos de quem se gosta,
tocar, falar, sentir...

Nunca mais alegria,
nunca mais pessoa amada,
e então, nunca mais amor
e até, nunca mais vida...

Mas, não nunca mais
o nunca mais.

Pois é sempre,
em impermanência...
ralleirias

quarta-feira, 10 de junho de 2015

um hábito cultural...

Há muito, tornou-se também um hábito cultural...
Até na música, e não só na que prega o estilo de vida prepotente e desigual
Mais um fruto, de mais um dos modelos econômicos opressores e violentos...
Está também nos produtos tóxicos que nos vendem como 'alimentos'...

e há inúmeras provas quanto à isso... 

Na forma como são tratadas as pessoas que são diferentes 
dos grupos predominantes, ou que tem opiniões diferentes 
das opiniões predominantes...

e há inúmeras provas quanto à isso... 

Sua escala é vasta e seu espectro é amplo, 
e às vezes a violência até passa 'quase' desapercebida 
fantasiada de linguagem, de segurança, de promessa de esperança
e em muitos outros dos níveis em que é aplicada, é sempre engodada... 

e há inúmeras provas quanto à isso...

O flagelo da violência, ainda se estenderá por muito tempo, 
pois, ela permeia culturalmente quase todos os modelos sociais à todo momento...
Ela é como um vírus infectante que gera mais violência, e outras sequelas 
que geram... mais violências e mazelas...
e assim vai aumentando e ascendendo, e replicando.
Nos oprimindo e nos conformando...

e há inúmeras provas quanto à isso...

ralleirias


sexta-feira, 5 de junho de 2015

melhorará um pouco o mundo...

Somos prisioneiros de nosso tempo, cultura,
desejos, sonhos, glórias, medos e expectativas.
Certamente seremos em algum tempo, todos libertos, 
e nada restará de tudo isto... a não ser que, como legado, 
você queira deixar um pouco de arte. 
Saiba então, que se fizer isto, de alguma forma, 
melhorará um pouco também o mundo...
ralleirias



Te decifro.

Casa comigo quimera?
Te decifro.
Daí, vamos fazer linguagens
e transigir novos signos...
Concatenar avessamente,
realidades e proto desígnios...
ralleirias (fragmento)



Imagem: Chie Yoshi \Sphinx

quinta-feira, 4 de junho de 2015

que não dá certo

Não te deixa contaminar por este poema
ele é triste, fala de um amor que não dá certo
e de coisas que estão aí, de verdade, muito perto,
dum mundo amargo que dói, queima e acaba.

Mas, toma-o pelo menos, como tudo o que posso te dar,
como algo, um pouco mais durável,
que o meu fascinado olhar,
ainda que o aches divino ou ainda, abominável...

Não lembre meu nome, ou o que represento, é só dilema
ou no que criamos, nem pense em mim
pense só no que diz o poema
seja firme e leia-o até o fim...

Veja que os mundos, podem ser escombros,
destas lutas da tristeza e desejos contra a alegria,
carregamos este caos nos nossos ombros
E nossos amores, ruirão assim também, todo santo dia...

Parece tudo tão confuso e complicado,
e que nada, funciona direito...

É tudo mal orquestrado, sabe quem é o maior culpado?
Lá num espelho, o construtor, o sujeito...

Mas, também, neste turbilhão de vontades incertas,
em mundos de descobertas, poderia ser de outro jeito?

ralleirias - meta teatro


terça-feira, 2 de junho de 2015

A verdadeira saga

A verdadeira saga do herói
é sempre sua própria causa:
Tornar-se permanentemente herói.
E, sem pausa...

É um ente herói, portando em si,
muitos heróis em saga... 
Que numa doação de ideais 
o melhor de seu 'eu' propaga...

Segue em marcha permanente, 
no próprio encantamento
mantendo focadas as mentes
constrói-se o herói assim, 
no geral compreendimento.

e vitoriosamente 
é assim num 'sempre' 
momento após momento
vitoriosa a mente
lutando apenas 
contra o total
esquecimento.

A verdadeira saga do herói
é sempre sua própria causa:
Tornar-se permanentemente herói.
E, sem pausa...

(...) ralleirias

Imagem: Richard Mauch, Il sogno del cavaliere