e ali no mato, os posicionou entre galhos, de acordo com o sol que ia nascendo,
pedra naturalmente triangular, que era como uma mesa... na qual colocou um
pequeno embrulho com várias sementes... o abriu e às dispôs em forma de espiral.
a pedra e então comiam as oferendas deste altar.
se entreolhavam, mas sequer esboçavam vontade alguma de um possível ataque...
Da janela, dona Milica, que observava tudo, cochichava a narrativa desta cena,
por telefone, contando tudo para a menina do caixa da padaria, que assim,
como estava desatenta, registrava as compras do seu Jonsom, no sistema,
mas, o fazia de forma errada...
- Cartoon escrito [ A Raposinha: Dona Milica]
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Paipaíra, estava certo de que Raposinha tinha um destino nobre entre todos
nós, o de curadora dos males das almas doentes, dos seres enganados com
as identidades móveis, e preocupados demais com seus próprios inventários
imaginários sobre o viver e o existir mundanos...
Ele disse, que uma alma de uma criança muito triste, assombrava a Raposinha,
então, ela não queria ser mais aquela criança triste, e esta força nela era muito
grande, e fez assim, ela tornar-se um ente que ia além do tempo linear e deste
nosso agora, que não é como realmente um agora, pois já foi posto ontem...
Raposinha sentia um real mais consistente e além do tempo...
- Cartoon escrito [ A Raposinha : Paipaíra]
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- Pois, deixa ela te falar do 'instante'... e enquanto dizia isso, fazia com as
mãos, aspas imaginárias , gesticulando de forma grandiloquente ...
O seu Jonsom, (Johnson) era um velho bem debochado, e parece que não
conseguia entender o sentido real de nenhuma das palavras que a Raposinha
dizia... A Menina do Caixa, deu a mão para a Raposinha segurar, enquanto
ela a olhava com os seus profundos olhos cor de mel, encantando-a
instantaneamente... Raposinha, numa energia hipnótica e bondosa,
calmamente foi falando:
[Raposinha]- Cada momento em que tu estás, é muito importante... vê só,
que enquanto e quando tu me ouve, cada palavra dita é como uma passagem
de tempo, e aonde tu, pra entende-las, carrega nelas mesmo, todo um
compulsório mundo... então, as palavras, são como encadeamentos
para as realizações reais destes mundos... e vêm trazendo eles para o
teu existir... percebe? E agora que tu sebes disto, quais mundos tu queres
fazer surgir então, à partir deste momento, aonde tu faz e é o instante?
- Cartoon escrito [ A Raposinha: Seu Johnson]
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A Raposinha, num tom descontraído, mas sério, falava para a menina do caixa
da padaria, contava que Caaporã atrasa o caçador no mato, e protege a vida de
todos os seres, e inclusive a do caçador.
E é uma grande sabedoria, Caaporã tem poderes acima das nossas limitadas
compreensões, pois está num outro plano, o que cuida de tudo em todos
os tempos...
O Paipaíra tinha contado para ela, que Caaporã e suas sabedorias, pareciam
ter ficado esquecidos pelo avanço das cidades, encurralados no mito desusado...
mas, é que, parece que Caaporã sempre vence... Pois é pelos próprios caminhos
daqui e dali, na razão em que é subestimado ou super valorizado... a magia dele,
assim vale e acontece inesperadamente, e em todos os nossos caminhos... e é o
engano e também é nas certezas, que desse jeito, puxam um pra cada lado...
e assim, ficam as pessoas perdidas em devaneios pueris e desnorteadas...
[menina do caixa]- : Quem te ensinou isso e a falar assim ? Raposinha...
tu sabe quantas coisas!?
Raposinha continuou a narrativa, referindo-se às vagas compartilhadas pela
padaria, no estacionamento da rua de baixo, e que eram muito longe da padaria,
e isso sempre gerava confusão entre os clientes:
[Raposinha]- Coisas assim também fazem do mundo um lugar mais confuso,
cheio de disputas, quase todas sem sentido, como estas, por uma vaga no meio
de um estacionamento no nada, vazio e ainda assim, hipervalorizado...
É assim como o Caaporã faz os entes perderem-se nas ilusões de um caminho,
um propósito, às vezes arriscado e não necessário... buscam por algo que acham
que precisam buscar, lá fora de si mesmo...
-A vaga da padaria?
- Não, a força e sabedoria próprias.
- Cartoon escrito [ A Raposinha: Caaporã]
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A Menina do Caixa, disse pro Seu Jonsom, que gostaria de ajudar a mudar
o mundo... Seu Jonsom, como sempre, foi curto e grosso, na sua opinião
bem particular, disse à ela, que sequer ela sabia sonhar, e que o 'mundinho florido'
que ela sonhava, era igual a um comercial ensolarado de produtos pra criança,
que envolve e engana todas as gerações conduzindo ao consumo certo, o mundo
de propaganda e de mercado....
Mantendo aquela fachada imóvel, ele exemplificou duramente, falando que
era como quando ela ocupa a piscina das crianças no clube do condomínio,
aos domingos na hora de pico, quando as piscinas estão lotadas... e ela
ficava tomando o espaço destinado aos outros, com o que acha que lhe cabe,
sem pensar em mais ninguém, num imaginário idílico sobre si própria
e os desfrutes no mundo...
Raposinha, observava quieta a conversa entre os dois... nem havia pensado nada,
mas daí, quando provocada com um piscar de olho do velho, sorriu largamente e
começou a falar de maneira que tomasse toda a atenção da menina do caixa,
pegando na mão dela, como costumava fazer, calmamente tenta remediar a fala
dura e truculenta do seu Jonsom:
[Raposinha] - É, o Seu Jonsom se refere, à quando não conseguimos enxergar as
diferenças que há nos mundos dos outros...
[Seu Johnson - gesticulando dramaticamente] - E mesmo que vissem, ainda
estariam ligados a ilha, mas, mar e a ilha... são tudo? é como falou aquele 'cara'...
é necessário sair da ilha!
[Raposinha] - É que sonhos, podem ser parecidos, justamente porque partem
destes lugares imaginários coletivos e isso sim, até pode gerar alguns enganos,
relacionados aos próprios erros destes grupos de pessoas, mas e também até
acertos, isso vem junto com os seus medos e desejos, mas... mesmo estes sonhos
coletivos como os que tu descreveu, são ainda bons, saudáveis e normais, pois
eles também movem o mundo (...)
ralleirias - Cartoon escrito [ A Raposinha: A Menina do Caixa]