caridade

Talvez, a caridade seja algo que converse com a consciência 

sobre a própria humildade e a do próximo, 

como uma inteligência viva 

e ultrapasse e atravesse a essência da humanidade 

como um desejo de fazer o certo 

muito além de fazer o bom e o bem...

- crônicas das asceses místicas 

subjetivação

Nossos silêncios vão para o subconsciente 

e oportunamente em sua subjetivação 

como indivíduo, eles virão à tona 

para que resolvam-se e transformem-se 

em expressões de alguma forma legitimadas 

pelo seu meio, que ao forçar este recalcar, 

o deformar e o conformar, enfim, também 

assim as produz ( e no silêncio... e na expressão)...

normalidades.

 Dos humanos, se sabe, 

há todo um repertório 

de atrocidades.

E as suas repetições incontáveis, 

lhes colocam entre as normalidades.

Tão definido é o absurdo.

O simplório é também.

Entre um e o outro, 

de modo soturno

situamo-nos... 

mas, não muito bem...

ralleirias - Metateatro

unicórnios

Na esperança, 

as avenças são 

como lembranças.

De um certo e errado, 

que pode ser mudado.

Parte tudo dum ponto 

aonde já foi encontrado.

Sonhos, desejos, 

mundos criados...

Eu olho e te vejo, 

aí, de tudo sei, pois desejei...

Então a ilusão não insiste

quando se percebe que 

é só o teu amor que existe

e resiste por todos os costados... 

No agora agradeço por ter te

encontrado, neste sonho

por nós compartilhado...

Amor, estamos lado a lado

cavalgando livres e felizes

em unicórnios encantados ...

- Metateatro 

2019

bode

De quem é esse bode imenso e fedorento no meio da 'sala' ? 

E como é que ele entrou? Revelado está, que temos que mudar. 

Não é mesmo um bom momento... mas é um importante momento 

de auto avaliação e crítica e auto crítica de todos nós, como pessoas 

e como sociedade, sobre quais as nossas contribuições também 

como entes humanos e políticos e religiosos ou não, 

e como estas 'nossas', e nem sempre 'tão nossas' escolhas , 

ultrapassam nossos pensamentos, convertem-se em mais 

que palavras, comportamentos e estes em decisões que 

fizeram e fazem o nosso mundo.... e como ele será. 

A culpa é do bode?

- crônicas das lutas de classe

guardião

 Uma volta na terra eu caminhei, 

e encontrei a guerra, 

mas a paz, eu não a encontrei. 

Então, duas voltas eu dei... 

e mais guerra eu achei, 

e muito menos paz. 

Pois então, três voltas daí, andei, 

mas parece que fui para traz, 

pois eu encontrei as mesmas guerras, 

e ainda nenhuma paz...

Percebi, que ao buscar olhar para traz, eu me perdi, 

ao buscar olhar para frente, quase desisti...

Mas, mais ainda eu caminhei e andei e andei... 

até que dez voltas na terra, completei, 

mas sempre me deparei com as guerras e nunca, 

nunca encontrei a tal altaneira paz... 

E agora aqui estou, guardião apenas do que me restou, 

das voltas que o meu mundo girou... 

E ele sempre girará, isto, um fim, nunca terá... 

E a tal paz que procurei, esta verdadeira paz que busquei, 

a encontrei enfim, e eu só a pude encontrar, foi em mim...

ralleirias - Metateatro

covalência

Fogo, sagrado nome

tudo move, tudo consome, 

pois fogo é a lida, que ao 

todo reúne e em chama 

transforma naquilo, em vida

...vida é a alma de fogo, 

vida é a transformação

e é cada fronteira e

é cada modificação

em toda covalência

de cada evolução.

estável instável

mutável inigualável

-crônicas das asceses místicas

poema mudo

E é um poema mudo, 

mas conversado.

Aonde ele inicia, mas, 

não é finalizado, pois

contudo, sempre estará ativado

mas ainda será como inacabado...

Dialeticamente, ele fica continuado

o desenvolvimento periodicamente

é revisitado, e talvez não lido, 

mas em seu conteúdo é rememorado

e mesmo mudo, será reeditado... 

será um poema imaginado e mudo, 

mas conversado... confuso e fuso trocado.

Um dia será lido e será falado...

e assim, será ainda e novamente mudo, mas 

por descontinuado...

-Metateatro

na mudança

Horizonte ou fronteira, 

assim na mudança

tudo é dharma, 

tudo é carma, 

quando samsara é nirvana, 

e nirvana é samsara 

e nem é 

nem não é.. mas, 

distinguem-se nas ações. 

Semeiam mundos 

nos seus carregamentos 

e descarregamentos 

e fazem e refazem 

os movimentos 

dos próprios 

provimentos.

-crônicas das asceses místicas

aonde a relva cresce

 Eu quero ser 

como o campo.

aonde a relva 

cresce, e a

vida brota, 

e o sol aquece.

Como o vento 

que corre

num ermo 

encostado,  

e a

força n'água 

de correnteza

dum alto monte 

escarpado.

 - aonde está o blues

de alguém

E do que te cerca, 

tudo é de vontades 

de alguém.

Foi e será?

E nas relações causais, 

para as quais dás o quórum,

tua conformação também tem 

muito de certeza sobre tua 

posição de identidade... 

Performances fato,

fazendo quais verdades?

Quanto do teu sagrado tempo 

irás permanecer nestes

mundos conformados 

por ideais sonhados 

por voláteis

terceiros...

Movimento e relações 

que nutrem existires

não assim, tão teus... 

ralleirias - Metateatro

o lobo

 E o lobo, também 

pode vir 

fantasiado 

de carneirinho...

se dizendo acuado, 

e balindo mansinho,

como um coitado, 

bem coitadinho...

E que só será 

percebido, 

lá pelas tantas

quando as suas presas,

já estiverem

rasgando as 

nossas gargantas...

- crônicas das lutas de classe

caracóis

Momentos bons

são os quais 

nós amamos.

saudade dos 

teus sóis, 

de nós

olhando a tarde 

sem se perder

falando sobre 

os caracóis

deixando a noite 

então descer

do nosso céu 

ao seu anoitecer...

Momentos bons

são os quais 

nós amamos.

ralleirias -aonde está o blues

roxos

Num fim de uma tarde ensolarada, 

teus olhos lindos olharam através 

da minha janela... quando o sol 

se pôs em reflexos dourados 

e rosados quase roxos. 

Procurávamos vênus 

nos nossos horizontes.

Nos encontramos na lua. 

ralleirias -Metateatro

o Tao

É com o Tao

se integra 

se entrega...

E não é ser o tal

que nega o

que o agrega

no natural...

É como Tao

se expressa

sem pressa

como é 

o normal

carreia 

carrega

um ideal

sobre o 

que é e o 

que não é

real! É  é

com o Tao!

ralleirias - aonde está o blues 

Te tenho em som

Te tenho 

em som,

eu cantei 

com você.

e um samba 

dos bons

deu pra ver, 

deu prazer...

na lua e 

sem som

eu e você

eu e você

sambamos

sem som...

deu pra ver, 

deu prazer...

e deu num 

som que

eu cantei 

com você

com você

um samba

dos bons  

sambamos

eu e você!

sambamos

eu e você!

ralleirias -aonde está o blues

Meu canto é opaxorô

Meu canto 

é opaxorô 

caminho

em pacificar,

Oxaguian

Oxalufã 

Epa babá 

Epa babá 

Oxaguian

Oxalufã

Pai Oxalá!

Pai Oxalá!

Meu canto 

é opaxorô!

caminho

em pacificar,

Oxaguian

Oxalufã 

Epa babá !

Epa babá ! 

Epa babá !

Epa babá !

ralleirias - aonde está o blues

em cavernas

Começamos como humanidade criativa, 

talvez, desenhando em cavernas.

E estas imagens aparentemente estáticas, 

estão além das paredes, residem também 

nas mentes de quem realiza o olhar.

Fazem brotar o seu entendimento, e com isso,

e por isso, contam uma 'estória' diferente para 

cada observador.

E neste momento da observação, realizamos uma viagem 

no tempo, vamos a bordo desta comunicação, que se 

estabelece à partir daquilo que chamamos de passado... 

Estas pessoas e suas impressões, transpuseram-se então, 

ate o futuro... Nos tocam neste momento que é presente. 

O presente passa a ser impregnado deste legado 

que é agora ainda 'deles' mas é num novo então, 'nosso'. 

Eis que passamos a comungar uma nova realidade e 

estas impressões,  provavelmente irão além de nossas 

existências, e talvez, muito além de nossas descendências... 

De nossas estórias para as nossas histórias.

Tal como o brilho de uma destas estrelas já extintas, 

mas que ainda brilhando, nos alcança, e curiosamente 

nos diz que vivemos sim em tempos múltiplos... 

Esse brilho, o qual mesmo não havendo mais 

um emissor físico, ainda brilhará após o fim do que 

conhecemos como humanidade...  Assim como aquelas 

mensagens seremos, num longínquo momento, 

apenas nossas mensagens? O que somos neste instante? 

Que mensagem somos? A mensagem prevalecerá 

sobre a experiência, formando novas consciências? 

Aonde e quando de fato a experiência 

transcenderá a mensagem? 

Há mensagem emitida, se não for recebida?

- crônicas das lutas de classe