sagrada natalidade

Jesus Maria e José,

fugiam de sua terra,

eram exilados

de Nazaré

numa guerra

de ocupação

e de dominação,

escapavam de um infanticídio

comandado pelo representante

local de um império, que cometia

diversas barbáries entre elas um genocídio

em nome do poder, das apropriações

e da colonização,

até que por fim, conseguiram anos depois,

mata-lo numa crucificação...

Enquanto houverem guerras, e exploração e ódio

ao próximo, não haverá espaço para o Jesus Cristo,

só o Jesus morto... Este encontro que tantos

rogam e buscam no sagrado, só é e será possível

primeiramente dentro de cada um e dai, só se consagrará

no meio de todos nós, e será este o milagre: O da real

empatia, o da capacidade de darmos espaços aos outros

num lugar igual ao nosso, crítico, assim crístico e então

consagrando igualdades e verdades. Eis a sagrada natalidade.

Não tem como ser um 'feliz natal', não povo... 

Estão trucidando crianças na terra de Jesus, 

fazer a boa e velha vista grossa não rola... 

O mal estar social convulsionante grita 

nas nossas caras e escancara hipocrisias. 

Somos o resultado de uma sociedade que 

faliu faz tempo e já vai é tarde, o mundo a 

natureza e nós mesmos não aguentaremos 

mais, sabemos que a estrutura está ruindo. 

E que todos tenham claro, são as nossas 

mortes que aos poucos vão pagando esta 

conta, cada um de nós, é moeda, lucro, 

número, uma baixa por vez, um à um...

em tempos

 Deslocou-se 

em tempos

sendo o se reconhecer

junto com o ser

do que traz o 

daqui para frente

do que faz 

aprendendo 

no presente

ao futuro 

que consente

de onde veio 

e então 

dali foi 

aonde vai...

- Crônicas das asceses místicas

Iluminar

Iluminar-se é
se reconhecer, e mais...
Bem e mal, mau e bom,
são espaços dialéticos temporais
das existências de seres transitórios.
Assim, tudo só pode fazer sentido,
dentro de espaços consentidos.
Uma salada de assuntos, podem
ser conexos nas ignorâncias e
nos preconceitos...tanto quanto podem

andar juntos o perfeito e o imperfeito.
Ignorância que aliás é o estado
natural do ser, e é um espaço
eventualmente a se preencher,
e o preconceito é parte do recalque,
e é uma das formas de produzir
as respostas que tornam possível
ao ser demandante, além de se 

expressar, se auto compreender.
A soberba é a tábua de salvação
do ego, portanto, do recalcado,

também o ódio e a raiva são 

as respostas equivalentes 

de descarregamento das 

impotências e do choro
no adulto abalado...
Iluminar-se é
se reconhecer, e mais...
Bem e mal, mau e bom,
são espaços dialéticos temporais
das existências de seres transitórios.
Assim, tudo só pode fazer sentido,
dentro de espaços consentidos.
ralleirias - Ouroboros

polissêmico

 Um petardo polissêmico lançado

atos cênicos, fatos polêmicos...

o agora poliformado facetado 

sentidos compreensivos

compreendidos exprimidos

apropriados e transvalorados 

libertado o real significado

foi curado e auto inventado

o silêncio, como espaço 

amplo e sempre inexplorado 

deixou-nos tudo autorizado.

- Metateatro

as cinzas...

Em um mundo tão vasto, o desconhecimento 

sobre as diversas realidades e suas complexidades 

é algo esperado, assim, entender e comunicar-se 

com o entorno é essencial e mesmo, sagrado... 

A ignorância é sempre uma projeção de nosso 

desconhecimento sobre determinadas instâncias 

de realidade enquanto classificam-se

espontaneamente diante de nossos olhos 

como novidade...

abre-se por concessão de nossa necessidade 

de construir uma apropriação em relação e com 

o objeto aprende-se sobre ele, pega-se o sentido 

e amalgama-se com nossa vontade e parte de 

uma identidade aonde ele agora se insere como 

propriedade de usos e saberes... ignorância assim, 

atua como uma força primordial, também é 

um 'espaço' que serve para ser preenchido de 

informação, dela sairão entendimentos e destes 

talvez alguma sabedoria, quando na prática 

transformam positivamente a realidade do 

indivíduo e do entorno que o gerou e os

 pertencimentos que isto sustentam... 

contudo na fogueira da ignorância arde

 também obtusidade, desinformação 

e até alguma malícia, fazendo efeito 

de lenha suja num fogo que 

deveria ser sagrado... 

E a verdade sobre tudo

é que sequer sobram 

nem mesmo 

as cinzas...

- crônicas das lutas de classe

As borboletas amarelas

As borboletas 

amarelas, 

a seguiam 

e pousavam na pele 

delicada dela...

tão suave e cheirosa

como a carne 

de pétalas de rosa 

em flor ... 

Ficávamos em 

silêncio aos 

finais de tarde, 

na relva olhando 

o sol se por...

em ser 

transcendendo

os assuntos

eternizando 

o instante 

e amando 

ao mundo 

juntos.

-Metateatro

É aí o samádi...

É neste lugar, preste
atenção aonde sente
a tua própria força
de corpo, do teu vibrar...
Pare a atenção e
observa a tenção
olhe o relaxamento natural
o qual está agora o corpo.
observe-se enquanto
recolhe esta energia ...
Siga observando
enquanto a partir
deste  r e c o l h i m e n t o
percebe que também
muda a própria pulsação
o corpo entra em relaxamento
e libera a tenção e a atenção
a coluna se auto convida ao alinhamento
a mente aparentemente estacionou o pensar
e apenas segue a respiração, abriu-se um espaço 

além do tempo do lugar e além da identidade ...
É aí o samádi...
E  agora, pronto...é só o sustentar.

ralleirias -Crônicas das asceses místicas

muito profundo

É engraçado e é muito trágico ao mesmo tempo, 

considerando o dano real que representa este nível 

de alienação para o próprio indivíduo e assim para 

todo o tecido social... e o ódio que normalmente 

os coloca em estado absolutamente reativo 

e refratário mesmo frente à realidade mais 

corriqueira. 

Neste estado estão não apenas socialmente 

incapacitados de defenderem os próprios 

direitos sociais como atuam contra eles 

próprios, piorando a própria vida e 

a da coletividade... é um dano social 

muito profundo.

-crônicas das lutas de classe

cristandade

Pode a divina revelação 

estar disponível nos 

pequenos detalhes, 

sobre ser e praticar 

o cuidado e a consciência 

da necessidade de perceber-se 

doador e receptor, do tal divino amor 

na verdade, na amizade, na caridade

da humildade fraterna e esperançosa 

eis a fé no amor de Deus, constante 

e irradiante no exercer 

da própria cristandade.

Excluamos os poetas

Excluamos os poetas, 

que não sabem dos

importantes lugares

os quais nos queremos

e que mostram o que 

não compreendemos 

sobre nós e o mal 

que fizemos

e não falam de 

nossos importantes

umbigos, e nossas

estimadas dores,

e horrores e desprezo 

aos nossos inimigos  
e em que no mais,
em tudo, não se calam...
Excluamos os poetas,
que nos incomodam com
suposições de mundos que
não acessamos,
que não habitamos
e não vemos ou aceitamos.
Uma lírica que não nos toca
nas nossas escuras tocas.
Excluamos os poetas,
que insistem em falar de amor,
em tempos e seres,
que são tão tristes.
Excluamos os poetas,
que tentam domar a dor,
o medo e a ignorância com
palavras que lhes resistem...
Excluamos os poetas,
que não podemos amar,
e que não compreendemos.
Excluamos os poetas,
que não nos falam
nossas verdades
amargas e pueris.
Excluamos os poetas,
que são tão chatos,
são incômodos
e resistem nesta mania
e quer um ser 'livre e feliz'...

Excluamos todos os poetas...

- Crônicas das lutas de classe

singularidade

No poema o eu,
não sou só eu, é você.
Assim nele somos nós
num só acontecer
aonde a palavra
pavimenta o meu
e o seu andar,
naquilo o que ela
representa...
E a mente segue
lucida e atenta
em cada coisa
que se significa
quando pra nós
se apresenta...
Símbolos, signos,
numa singularidade
de comum propriedade:
Tudo ali se inventa
O tema a rima
o tempo a sina...
e eu e você
e o que quisermos
inventar e rimar
e compreender...
ralleirias - Metateatro

houve

houve um instante
aonde não houve
o antes... e lá,
morei por éons
antes do todo
se formar...
antes do sol
antes do céu
antes do mar
antes do ser
e antes do imaginar
e por estar tão só
foi que eu amei tanto,
até tudo inventar...
e então concebi
e atravessarei
todos sonhos de todos
os seres que um dia
irão sonhar ...

houve um instante
aonde não houve
o antes... e ainda

estou por lá...

ralleirias - Ouroboros 

- Das crônicas das asceses místicas 

calado

Sou calado, 

muito mais poeta

e estando errado, 

muito mais profeta...

Ao acaso sou nada de tudo, 

E assim estou no que é falado 

porque sou o todo em estado mudo

em tempo verbo e história, sou as

invenções de meus desejos de memórias...

- Metateatro

Cinicamente - sustentável

 Cinicamente o capitalismo sempre afirma 

uma solução 'sustentável' e resultados positivos 

que não apenas nunca performa, como também 

geralmente, em diferentes investidas que faz 

ao mundo natural e orgânico do qual somos 

todos integrantes, menos 'ele... assim, nos preda,

e por isso a tudo deteriora e por isso a tudo severamente 

deforma, e em todo os sistemas aonde atua, irradia desgraça 

e em muitos  níveis, no ecológico e material, no social e

fundamentalmente na psique de todos os seres envolvidos, 

Observando os diferentes estudos já consistentes sobre 

comportamento, em muitos ambientes e diversas áreas, 

estudos científicos para análises de riscos e investimentos, 

aonde é avaliado o fator 'saúde e comportamento' nas  

criticidades das diferentes tenções e seus riscos,

amontoam-se fortes evidências e apontam 

objetivamente isso... o capital é como uma ficção

trazida ao real, aonde uma entidade predadora 

que encontrou na ganância e na necessidade 

e nas carências e misérias humanas, 

uma porta à um hospedeiro que se 

aloja na mente e no coração de homens, 

que ideologicamente adoecem

se transformam em suas bestas... 

- crônicas das lutas de classe

conduta

- É aquele, um pouco apartado do bando, ele é quem cuida 

de fato do grupo, ele não é o maior, nem o mais novo, 

já é quase o mais velho, mas anda com equilíbrio e força,

é o mais prático, calmo e silencioso, só disputa certo, não 

desperdiça energia nem recursos.. se mantém justo e busca 

constantemente natural equilíbrio, é o mais sábio, não é 

quem quer'mandar'... mas a própria conduta dele é quem 

inspira conduta a ele próprio e aos outros, e todos 

instintivamente o respeitam por isto, eles sentem que 

podem alcançar essa original firmeza, também como ele ...

- Veja, mesmo os mais fortes e que ponteiam as disputas, 

aprendem a observar-lo no que está indicando em seus 

comportamentos e movimentos, entendem o que está decidindo 

e ponderando nas suas ações, eles o copiam e reforçam ou 

desfazem as suas próprias tendências... E a matilha avança.

- crônicas das lutas de classe

emanações

 'Ser', explicou-nos que algumas de suas emanações 

surgidas em diferentes locais de formação originários, 

transcenderam todas as condições, e produziram esporos 

que ultrapassaram as atmosferas de muitos mundos, e 

viajaram com os ventos estelares até distantes sóis 

e seus planetas, fundindo-se e expandindo-se desde 

então, ora como uma sonda, em um agora múltiplo, 

noutras instâncias como uma consciência, ou como 

uma onda e assim, havia estabelecido a sua presença

em quintilhões de existências... e também as suas 

latências e intermitências, em diferentes sistemas e 

dimensões, em coisas que percebemos como espaços 

e tempos e consciências, sem inicio ou fim...

ralleirias - Cartoon escrito

ensejo...

Defina a loucura, dos que

definham em desprezos...

Depois de ti,

há um outro eu

que ensejo...

Não menti...

Eu, ainda sou eu,

mas agora, é este eu

onde te desejo...

-Metateatro (2019)

saindo do neolítico

Como espécie, ainda estamos saindo do neolítico... 

contudo é exatamente essa a questão: 

O processo civilizatório, nos propõe colher os 

saberes desta caminhada evolutiva não apenas 

como humanidade, mas como integrantes de algo 

muito maior, e que ainda estamos percebendo 

e aprendendo e aplica-los com habilidade 

e inteligência sistêmica, e isso irá requerer sempre 

paciência, tempo, compaixão e sabedoria e

humildade e muita vontade...

- crônicas das lutas de classe

revelação

 Apocalipse significa revelação. E esse é o nosso tempo. 

Reza a lenda, que os demônios não sabem o que são,

mas os humanos sim, nascem com o dom de conscientização... 

por isso é que podemos de alguma forma, sempre fazer ou 

tentar tomar alguma opção... E é assim, que podemos ser 

divinos ou mesmo piores do que demônios...

eis a nossa mais cruel revelação... 

Mas, quais de nós realmente decidem 

quando não sabem o que são?

São como demônios, sem opção. 

- crônicas das lutas de classe

clarão

Uma fagulha 

cruzou o espaço, 

e a nada iluminou,

ninguém a viu... 

Mas, o clarão 

se produziu...

-fragmentos

verdades

Nada do que falo são verdades, 

mas tudo é invenção das palavras

que insurgem-se como certezas 

e vão tomando atenção

gerando aos poucos os fatos, 

que armadilham os atos, 

mas também são como o cenário 

de sua representação...  

nem é minha a minha vontade, 

mas se faz na necessidade 

e assim mais ou menos na 

minha fala a boca não cala 

e revela do que está cheio 

também o coração... 

E o que geralmente é ilusão. 

- Metateatro

ho'oponopono

O ho'oponopono Sinto muito, me perdoe... Oponho, oponha. Pondo, ponha. Opondo oponha. O oponopono... valeu? - crônicas das lutas de classe

uma canção

Como uma canção é um transe,
eu canto, com o coração para o sagrado...
Como o eu sou, que é meu contato
com o próprio sonho sobre ser o
todo e as partes no mesmo ato.
O amor, é presença e vibração

da emoção e sentimento,

e completam-se em noção

assim no momento e então

é no fato que o sagrado

tem realizado o seu

divino provimento...
-crônicas das asceses místicas

origem

O reconhecimento da origem de um pensamento, 

também mostra um dos caminhos aonde e como as

personas constituem-se nessa gênese da construção 

coletiva de identidades... estas, postas por associação

do universo comum de subjetividades e linguagem, 

pois são ambientadas em semelhantes sistemas... 

dali, carreiam-se os universos aonde se fazem 

todas as suas possíveis soluções, 

dilemas, invenções e loucuras... 

suas doenças e curas, 

os seus destinos 

e o seu fim...

- Metateatro 

- Un tango!

Não será

meu mal

um apego,

e nem paz

e nem sossego,

sequer

Eu ei de precisar...

não me aflige a fome

e nada me consome

já nada mais preciso

ver ou olhar...

nem me presto a falar,

não toca a minha alma,

não toma a minha calma

não tira a minha paz...

Naquilo tudo que se deu

nem eu era eu, nem nós

houve, há ou haverá!

ralleirias - aonde está o blues 

( Do Prajnaparamita... )

pautados

A obrigação da felicidade, equilíbrio 

e harmonia constantes é também uma 

forma de coerção, um simulacro social 

que carreia o viés da infantilização do 

imaginário  sobre as possibilidades de 

mundo, o ser infante existe  numa época 

aonde o fato social foi roubado das massas 

e todos estão loteados aos interesses de 

grupos econômicos que vendem satisfação 

à massa infante carente ainda pautados no 

imaginário de supremacia do mais forte e 

do patriarcado neolítico...

- crônicas das lutas de classe

plenamente consentidos...

Que o sol ilumine os nossos ingênuos desejos 

de entender o que foi feito para não ser 

completamente entendido... 

veja como a evolução, nos possibilita o direito 

à ignorância ao acaso e ao que aparentemente 

não faz algum sentido... compreendido tem que ser 

de que o que está feito, está feito, faça ou não faça 

para alguém, em algum momento isso, algum sentido... 

pois fato é que o que é direito e o que não é, são também 

habilmente por alguém, e não se sabe muito bem, 

por quem, plenamente consentidos...

ralleirias - crônicas das lutas de classe

Ouro dourado

Ouro dourado

do sol encantado,
que se entrega em vida 

e em amor derramado...
Só vejo que
há sempre
a tua obra
por todos
os lados...
Dum divino
amor manifestado
Ouro dourado
do sol encantado
que se entrega
em vidas e
em amores
derramados...

Vejo que
é sempre
a tua obra,
por todo
o lado...
- aonde está o blues

civilizacional

 Somos uma sociedade ferida, 

dessensibilizada e ignorante quanto 

as próprias perspectivas presentes e futuras,

assim, poucas são as lideranças que carreiam

as possibilidades concretas de responder fora 

das reativas demandas coletivas em que forjaram-se 

as suas identidades e dinâmicas necessidades, e que 

conformaram o status quo e todo o modus operandi 

social deste deformado sistema civilizacional... 

- crônicas das lutas de classe

cerne

Então sou árvore muy torta...

e de raízes entranhadas

em galhos de cascas

ásperas e grossas

do cerne de veio 

como sangue, vermelho 

de cor encarnada...

não me prestei ao corte

de machado ou da espada

eu não sirvo pra poste

vergalhões ou tabuadas

e não dependo das sortes, 

eu rasgo as pedras 

e do solo sagrado 

trago as suas águas...

e me lanço em sementes, 

nos ventos ascendentes

acima das copadas...

em sonhos alados

sobre novos mundos

aonde me fundo 

plantado e brotado. 

- ouroboros

 

consegue

 E tu consegues ver,

ali, isso no agora?

Em quantas camadas

daqui para ali, quem

está não é a coisa, mas é

compreensão, do que é

num algo formulado

socialmente e consentido

tu consegues?

E o que está segurando

esta compreensão no teu

pertencimento e conceituação

de quem ou que 

é o que,

e o que observa

e porquê? 

Consegue ver, 

como fazes fazer, 

isso no agora

algum sentido?

- ouroboros

Central do Carma Informa: aviso 4

Central do Carma Informa: aviso 4

- As permanências 

se descontinuarão.

 - Tempo incerto 

é duvidoso. 

- Só, a 

atenção, 

existe no 

silêncio e 

o abriga.

- Avisos 

findos.

ralleirias

Suco

 Suco de vida é suor, nosso ou dos outros

somos escravos daqueles e daquilo

em tudo o que acreditamos e apostamos

Suco de vida é sangue, nosso ou dos outros

e nada sobra, nas moendas da vida,

seremos triturados, até a farinha de

todos os nossos ossos virar adubo

para outras vidas, que serão também

assim como as nossas, consumidas...

Suco de vida é escarro, nosso ou dos outros

na cara da própria vida... por nosso auto

desprezo tosco que nos foi ensinado num mundo

formado em apelos estúpidos de cunho odioso.

Suco de vida é gozo, nosso ou dos outros

pelo absurdo holocausto sanguinário

e fragoroso, de inocentes e mártires

em nosso nome, por nosso lucro,

e na nossa conta... É lucrativo e

vergonhoso. E é a vida que segue,

enquanto não formos nós, de novo.

- crônicas das lutas de classe

corriqueiro

A exigida atenção continuada do indivíduo

sobre suas carências e problemas, 

é induzida propositalmente no seu mundo corriqueiro 

e sempre está relacionada sobre as ações 

deste estado de exceção, e são importante parte do 

movimento necessário para continuidade desta 

mesma tática de submissão e de conversão e 

engajamento de público, aonde constituem força 

significativa desta nova economia da atenção 

e da sua capacidade de mobilizar estes públicos 

politizando-os compulsoriamente em currais 

e os posicionando em vieses antes inimaginados, 

possibilitados pela aderência e imersão absoluta no 

contexto e aonde o voto comportar-se-á como onda 

de tendência caótica, mas contudo planejada... 

e culminará no desaguar desta geração do fato 

pontuado pela tendência e o desejado resultado...

E assim, elimina, paga, engaja e elege, dá vida ou mata.

 - crônicas das lutas de classe

deus mercado

Posto o paradigma do financista deus mercado, 

e tendo os meios de produção à disposição 

de muitos, como nunca antes ... 

resta o controle acirrado nas vontades 

ensinadas às maiorias, 

e sempre toldadas pelo ideal de 'consumo'... 

na mira, os 'bens' variam nas subjetividades ... 

linguagem para concessão das outorgas na cultura, 

fazendo quórum para a massa crítica, 

revertida em rebanho, conduzida em manadas...

ralleirias - crônicas das lutas de classe

o combustível do normal

 Naquele mundo, doravante

elites produzirão IA's 

que farão todo trabalho 

e engolirão ao capital...

E ninguém vai perceber 

até chocarem-se com o real, 

aonde escravos valorosos

não geram mais riquezas, 

mas pagam tudo com 

as próprias vidas, nem 

precisam entender, 

que para o luxo existir, 

o pobre tem que morrer...

e já não reclamam, 

ao contrário se dedicam

enaltecem seu escarnio

não criticam... assumem

o próprio mal e assim um

novo ideal: 

São os escravos valorosos 

o combustível do normal...

- crônicas das lutas de classe

comunhão

O meu ombro
amigo, é o meu
violão. É a poesia
quem me entrega alegrias
nos meus mais sombrios
momentos de desilusão...
E vão me puxando pra fora
dos abismos, e esqueço as
tristezas e em malemolência
eu vou sambando sem som...

Os poemas, são como canção
para a mente e o coração
onde o amor é bom e solução
e tem que ser, dedicação...
mas, vai além.... é comunhão.

ralleirias - Dos fragmentos

qualificadas..

Quando as palavras são faladas...

São sentidas, são escritas e contidas,

qualificadas... entram num tempo 

congeladas... ficam datadas e corrompidas 

num momento e fixadas, e há um rompimento

são desassociadas, dos momentos e dos sentimentos 

aonde foram elas, geradas...

Quando as palavras, são faladas e percebidas, articuladas

e nas circunstâncias são compreendidas, e ali ouvidas

temporizadas, presas elas ali ficariam encarceradas?

Espelhariam o teor verdadeiro em que foram pensadas 

exprimidas e flexionadas e sentidas... não estariam as 

palavras, portanto feridas?  Nas suas verdades

enquanto serem palavras retiradas da realidade e 

dos atos e fatos, de fato, da vida?

- aonde está o blues

distorcer

- Então, o guru estava falando era de nós!

- De forma alguma, o que guro estava falando era sobre ele!

- Exato! É 'Sobre' ele... Sobre! Entende? 

Mas o que ele queria dizer é que...

- Pode parar! Ele disse o que disse! Nem vem pra 

cá com 'versão'!

- Pois então, foi por isso que eu gravei... Escuta: 

"- Vocês me chamam de mestre! 

Mas vocês é que são os meus professores! 

Sou o desterro da bondade a qual não creio... 

e nem existe humildade no que semeio!

Pois não há nada de humilde, em querer que 

a própria humanidade que pode um ser ter, 

extrapole as faculdades do próprio ser e do 

compreender e sua solidariedade supere as 

todas identidades, no doar-se ou receber

relativo ao outro ser! A loucura da bondade 

e da maldade, irão ceder ao que o ser mais 

humano que o humano pode de si ao outro 

conceber... e tudo é tão superior a fugidia

realidade, quanto as temporalidades de 

verdades ou de falsidades que as estórias 

em histórias possam vir a constituir-se 

ou distorcer..."

- O guru estava sim, falando sobre nós!

- Não, de forma alguma... 

- Escutemos de novo...

ralleirias- Cartoon escrito

guerra fria

Garota Fukushima clássica,

procura garoto Chernobyl

para disputar uma guerra fria

plácida, nas redes e 

nos videologs do Brasil...

Mas o bom pequeno burguês

não a quer deixar

como bola da vez

a quicar em paz

e mais uma vez

quer faturar

com a fauna e a flora

e o que puder pegar

pra impressionar

a garota Fukushima clássica,

que procura um garoto Chernobyl

para disputar uma guerra fria plácida, 

nos paralelos quentes

das esquinas do Brasil...

- aonde está o blues

e fazer valer o amor

Talvez, apenas 

não foi o que 

poderia ter sido...

Quiçá teria mudado 

todo o depois?

E também 

o antes

... sim ...

aquele até 

então, já 

existido...

Num mar de 

significâncias 

tamanhas

que todo 

o resto, 

teria sido 

preterido

independente 

do que já foi?

Ou, num monte de 

bobagens, talvez

como estas

repara-se que vida...

realmente, não

faça nenhum 

sentido... e

nem num antes 

ou num depois

então... pra

tudo ser novo

e agora entendido,

o que foi antes impedido

agora é o consentido

e seja como for

e para esse novo sentido

fazer valer o amor...

também tem que 

valer a dor!

também tem que 

valer a dor!

ralleirias -aonde está o blues

devora

 A vida nos devora...

à serviço de sua consorte,

a morte, que permanentemente à ela,

nos implora, todas as nossas sortes...

A vida nos devora à serviço dos

entendimentos, momento à momento,

processando sentimentos que se

perdem sem identidades ou memórias

em escombros e escórias...

A vida nos devora, e traga-nos

em tempos, palavras e pensamentos...

A vida nos devora...

- ouroboros (fragmento)

um múltiplo sonho

Estava lá, aonde

não haviam

dias e nem noites,
o que parecia ser como um sol,
era uma gigantesca bola avermelhada
muito maior que o horizonte
e ocupando boa parte da
abóboda celeste,
estável, aparentemente estática
e perene, sua luz possuía camadas
e era também como um múltiplo
alimento que desdobrava-se
em cores diversas e inexplicáveis,
o seu céu era constante
e era como um afago aos seres,
o 'ar' cintilava em tons vermelhos,
azuis e violetas, raramente
em tons amarelos e alaranjados...
nossas vidas eram tão longas,
que em outras realidades
seriam compreendidas
como eternas...
estávamos ali, muitos,
mas éramos um só,
estávamos em vários lugares
mas era como se fosse
apenas um lugar, contudo diverso,
mas sempre único, aonde
eu sou e não sou
um múltiplo sonho,
sonhado em muitos mundos
e que nunca acaba... - Crônicas das asceses místicas

Decálogo desnecessário

 Decálogo desnecessário:

1- Será contravenção, amor ou paixão

quando autorizados por ambos os lados.

2- Todo sentimento bom, será errado,

quando recíproco, agravo dobrado.

3- Calar-se para toda eternidade

sempre que houver a necessidade

de algo ser dito de verdade.

4 - Toda forma correta estará errada.

5 - Intolerância é a nova paciência.

6 - ignorância é a nova competência.

7 - Violência é a nova linguagem.

8 - Verdades, não estão autorizadas.

9- Necessidade é obrigação irrevogável

10 - Medo obediente, é a nova conduta. 

- do rabo do diabo

descoberta

Nunca é o fim de algo que 

não teve um começo...

minha dor só segue 

enquanto te esqueço...

Se teu sol se pôs e não voltou,

fala de um amor que não havia, 

e por isso que nunca vingou.

e assim, se tua lua segue encoberta

é como uma fala calada que te

revela esta triste descoberta...

- meta teatro 2019

E da palavra valer sobre o instante...

Se fosse falada e escrita, contida estaria,

e corrompida pelo tempo em que é dita 

e as circunstâncias em que é ouvida

ficaria e não espelharia o verdadeiro teor

em que pensada é exprimida, 

flexionada e sentida, e assim

estaria portanto ferida,

no após... lida, ouvida

pensada e compreendida

validada e viva em expressão

de valor e intenção de teor.

- crônicas das lutas de classe 2018 

O mito do amor restrito

Cada identidade, costuma carregar as noções 

das 'verdades',  inspiradas no meio aonde 

e como foram forjadas, nestas linguagens. 

A percepção sobre o entorno, esta associada 

a clareza sobre a correlação destas vontades 

sistêmicas ajustadas aos princípios aos quais 

estas identidades associam-se, assim como 

formam-se os recalques e as possibilidades 

de expressão permitidas culturalmente para 

estas posições sociais e humanas. 

A linguagem possível para o eu que ama, 

o cercará na percepção e na noção 

destas realidades e deste construto de 'EU' 

e suas desejadas possibilidades e móveis certezas. 

Todo desejo parte de uma identidade, 

pois a inteligência é interação social e linguagem. 

Assim, quando a realidade se transforma, 

transformam-se também as certezas, 

as inteligências e as identidades se realinham. 

A afeição é um construto lógico e sentimental associado 

aos desejos e possibilidades de uma identidade. 

Assim enquanto preservares estas tuas verdades 

intactas, quem decidirá além do teu desejo, 

será a manutenção da identidade que sustenta 

esta noção identitária de sentimento e de verdade.

O mito do amor restrito é um construto social do patriarcado.

-crônicas das lutas de classe

Libertei!

Quando eu vim

parar aqui

nunca havia

visto nada igual!

Meu corpo,

era terra,

descobri e

o meu chapéu,

era o próprio sol!

Despertei,

minha vida

logo eu criei...

Quando então

te conheci,

e floresci,

te amei...

Despertei!

E minha vida

logo eu recriei...

Quando então

te pertenci...

Me reencontrei

e me libertei!

Libertei!

Libertei!

ralleirias - aonde está o blues

                                                Belém velho, extremo sul de Porto Alegre, RS, Brasil.

por enquanto, só nos resta a loucura.

Em meio ao caos social vivido, algumas contas hipotéticas,

mas pragmáticas, apontam que em 90% do tempo, somos manipulados pelas 

exigências desumanas de um sistema miseravelmente enlouquecedor, 

e nos outros 10%, resistimos nas sequelas dessas forçadas loucuras... 

Assim, ainda que inapropriadamente, talvez sejam elas, as nossas loucuras

nossas expressões mais autênticas, as nossas mais verdadeiras respostas... 

pois são como o nosso usufruto de nossas resistências nas verdades às 

quais nos moldamos. É por isso que urge que mudemos o mundo. 

Pois por enquanto, só nos tem restado viver nos legados do caos e ou da loucura.

- crônicas das lutas de classe

presença

 Há a presença,

espaço e silêncio

permite todo som

acolhe toda forma

emula o nada e o nunca

aceita o todo em tudo

paciente, acolhedora.

em que estar é perceber

sentir é ser, 

e a si 

no todo 

pertencer...

- meta teatro

o nosso agora ou nunca...

 Certezas postas sem respostas...

Como, quando, onde, quem ?

O factível como aposta

dum real que nunca vem...

Vai que dê certo,

ou chegue bem perto?

Amor, acorda eu também, me

fala como é a tua música

e eu te mostro a minha, vem...

E se acontecer de funcionar?

Pode ser, vamos dançar?

Deslancha ou trunca...

Tenta, que atento eu tento.

É o nosso agora ou nunca...

- meta teatro

cavalo da história

E, se perdermos o cavalo da história, 

nem haverá memórias a nos sobrar ...

e tampouco alguma glória para nos alentar... 

ou mesmo méritos a deixar...

na estrada tão complicada...

cruzando sempre um fundo 

passo, subindo sempre a colina, 

é tanta cansaço, 

o mundo só é sina..? 

Crônicas das lutas de classe 2017

Fixa

Fixa a verdade amor, 

corrobora com a tua realidade,

(sem dor) com base nas tuas verdades...

E embora as verdades sejam 

um conjunto de outorgadas

singularidades...

Fixa a verdade amor, 

com base na transitoriedade, veja, 

há tantos lugares e instancias móveis 

que envolvem tantas sub realidades...

Fixa a verdade amor, 

constrói assim objetividades

com base no desejo sobre as

tuas tantas necessárias identidades...

Fixa a verdade amor, 

é um amparo, mas é um cárcere

e deste jeito, ele é feito, somente

pelas armadilhadas vontades..

Fixa a verdade amor...

Contudo, tua mente é livre

Fixa a verdade(sem dor).

ralleirias -meta teatro 2018

latência

Às vezes flagra-se alguém respirando em poesia.

E, quase todos os dias....

ralleirias (do rabo do diabo)

E, eu sempre lembro...  

que... ao emular assim, limitada compreensão... 

Decreto nela apenas, uma temporária permanência...

Fazem-se desta forma, mundos somente como hiato de noção, 

ante a sua latência, em um potencial ou não de eterna existência ..

Inconstante e inconsistente,

mas, sorri e vive contente...

Vai, vai em frente... 

Há a relva fresca aos pés e é tua... 

como tudo, tão cara te é, 

como os todos gozos teus... 

convenientes... 

E assim, todos os dias, 

estas todas tuas marchas,

são sustentadas e preparadas, 

por muitas, muitas outras vidas

tão dedicadas,

e tão desprendida mente...

Que elas, assim, servem-se pra ti ... 

em todas as suas santas mortes 

e, permanentemente... 

Inconsistente, inconstante

mas, sorri ... E vive contente!

Vai, vai em frente... 

ralleirias(das lutas de classe)

- ah! Só gosto de quem 

não gosta de mim.... 

E é bem melhor o sabor assim...

Faceiro, demônio fuleiro, 

seguia catando vítimas 

com seu estilo rasteiro... 

Ele em seus mundos às irritava e irava, 

e assim dominava e as suas almas

ele cativava... e eis que assim é 

que as devorava.

(do rabo do diabo)

Alegremente... pensava, assim, 

muitos mundos formava... ia indo...

- ah! Mas que delícia isto de ler, 

sobre este deleite lascivo de saber fazer

a leitura dos mundos como se fossem

ordenados num livro...

E seguia o demônio sorrindo, 

caminhando na estrada

entre o céu e o inferno 

descendo e subindo..

e assim, seus muitos mundos surgindo... 

e ele devorava todos... pessoas e coisas... 

E achava aquele horror... tudo normal... 

muito natural e... lindo...lindo...

ralleirias (do rabo do diabo)

Num roteiro, mapeia o caminho do inferno... 

E se és eterno, já o sabes... 

Se esqueceu, basta dar uma de ateu... 

Vê, em nada acredita, segue com tua alma aflita 

cartografando com sangue, e por várias existências...

E assim, com boa paciência, tudo o que se dará, 

será exatamente o que já se deu... 

Perdeu porque venceu...

ralleirias(do rabo do diabo)

Recitava um demônio, 

em escalada abismo acima, 

preparando-se para eventualmente, 

caso sua mente fosse pega de surpresa 

numa morte repentina, ele continuar tentando 

escapar do umbral e livrar-se de sua sina... 

- Nos mundos onde eu morro... 

que sejam sem socorro. 

- Nos mundos onde sou eterno... 

estabeleçam-se como um inferno... 

- Nos mundos onde sou tanto quanto 

um deus ou santo ... 

que só existam ateus.... 

Recitava um demônio, 

em escalada abismo acima, 

preparando-se para eventualmente, 

caso sua mente fosse pega de surpresa 

numa morte repentina, ele continuar tentando 

escapar do umbral e livrar-se de sua sina... 

Rogo, com a mais humilde vontade 

que nem é minha de verdade, coitadinha...

Que fodam-se todas as minhas existências 

para que eu perceba, que nem existo além 

destes meus causais desejos desiguais

malfazejos e bestiais 

em sonhos de aparências....

Recitava um demônio, 

em escalada abismo acima, 

preparando-se para eventualmente, 

caso sua mente fosse pega de surpresa 

numa morte repentina, ele continuar tentando 

escapar do umbral e livrar-se de sua sina... 

ralleirias(do rabo do diabo)

Só não se perde, aquilo que se dá... 

Como também, a posse daquilo que não se tem...

Me parece que a posse é sempre efêmera assim

como as entidades e os mundos circunstanciais

destas todas identidades e existências também...

ralleirias

Não resiste algo contra alguma coisa,

quando é só ela que existe...

Aí, ela, como sim ou não, sim... 

há em instâncias, em que nem resiste.

E... nem insiste só 

em no que é a incisão

 de só 

o que persiste...

veja só... insiste

em que nem resiste

existe só... existe...

existe...

ralleirias

Inteligência é um conceito.... 

manifesta-se de muitas formas, 

a lógica e a racionalidade 

lhe prestam reverências, 

mas não a contém, 

e nem a detêm 

exclusivamente... 

O próprio caos

e aleatoriedade 

são referências 

comprobatórias disto.

ralleirias - meta teatro

risadas

Não vou te ver mais... 

Nem mais te ter,

ou vou te sentir...

Tuas razões e palavras

e as tuas risadas, 

eu não vou mais ouvir...

O mundo rompeu-se e

irremediavelmente...

E a vida mudou

para sempre e

significativamente.

Há um novo tempo

com um outro nexo 

desentendido 

inverso e complexo

e sem muito sentido...

A alegria, virou tristeza

e a feiura da dor

parece que nos 

roubou a beleza

e a graça do teu ser 

e assim, do meu amor.

Mas, eu não vou 

te esquecer...

seja como for...  

-aonde está o blues

invencíveis

A crítica, o hilário trágico e o profético fácil do óbvio e das penosas consequências, armadilhadas nas inconsequências sistêmicas, planejadas pelos interesses capitais de outros... somos e estamos como civilização, à deriva como o lixo que produzimos - derivativo contundente e uma marca civilizatória, quase uma identidade coletiva... estamos flutuando no oceano de nossa tragédia, como pedaços

de lixo plástico, desconectados

de tudo que é natural, assim,

inúteis e nisso, quase invencíveis. - Crônicas das lutas de classe

Irreconhecíveis...

Somos ingênuos,

e então, os monstros existem.
E ainda que não creiamos em demônios,
ei-los aí, entre nós e estão nos despedaçando.
O mal tem raízes na cobiça, também
tem outras ramas, uma na ignorância
outra no ressentimento e em outros
lugares tão baixos que são
inomináveis e humanamente
irreconhecíveis...
- crônicas das lutas de classe

necessário

Para poder morrer 

é desnecessário querer

mas é necessário esquecer 

e deixar-se esquecer

não deve haver o que perdoar

não deve haver o que lembrar

e nem adianta o não desejar

e é necessário o aceitar

necessário é um perceber

que a derrota é o melhor que há

e o que é o total esquecimento

realmente é um grande livramento...

concebeu...

O silêncio

que te
ocorre
quando
acabas
de ler
o poema...
Sou eu.
E agora
isso que
só então
descobres
Ainda
sou eu.
Mas só
sou
porque
tu me
concebeu...
-meta teatro

plenitude

Como força invisível
mas que impele
e acolhe tudo
o amor,
é lugar sagrado
e frequenta-lo
requer respeito
com a consciência
dessa energia
que conversa
com o que é eterno
em nós e em tudo...
Assim é que acesso
as nossas memórias,
com a certeza de que vou
te encontrar em tua plenitude.
O puro amor é devoção
silenciosa ao sagrado
legado que ainda somos
e ao que fomos
e sempre seremos.
O que
chamamos vida,
é muito maior
e multifacetado
do que podemos conceber
com nossas limitadas razões
forjadas nas hostilidades
e carências civilizatórias...
ralleirias -meta teatro

há personas

 Há pessoa, há personas.

Elas morrem,  em suas diversas singularidades.

Morrem nas suas ingenuidades, se dissolvem

Móveis seres, formados em mutáveis saberes.

nas instâncias históricas, e ficções próprias

de diversas, passageiras, breves e picotadas 

realidades ... Há pessoa, há personas.

Elas renascem em suas diversas singularidades.

Ressurgem nas suas ingenuidades, se constroem

Móveis seres, formados em mutáveis saberes.

nas instâncias históricas, e ficções próprias

de diversas, passageiras, breves e picotadas 

realidades ...Há pessoa, há personas.

ralleirias  - aonde está o blues

De forma geral

 De forma geral, quem odeia, 

permanentemente, já está derrotado.

Pois permanece em prontidão

carregando um inimigo e lhe

dando atenção ... num conjurado.

E bem aonde deveria haver alegria,

ali o espaço.... já está todo ocupado.

Pulsa na vida, fora das próprias virtudes.

Pulsa na morte, ainda fora de seu ataúde. 

ralleirias - crônicas das lutas de classe

delicadeza

 De tanta delicadeza,

ela tem a plena certeza 

que é tão pouco em pequeneza...

E talvez, ela viver intensamente

segundo outras gentes

não valha mesmo a pena...

Mas não veem que

tamanha delicadeza,

requer uma enorme nobreza

e tanta, mas tanta beleza, 

que na verdade

ela é muito maior 

que o mundo 

em toda as suas 

complexidades

e certezas...

ralleirias -meta teatro

o que pode

E como prever um mundo novo...

Suposições, são apenas sobre o que pode acontecer?

Quem pode conjecturar, todas as armadilhas de tanto querer...

...e por isso mesmo, tudo aquilo o que não acontecer?

...quem pode prever...

Um romance é uma criação

onde colidem dois universos

cheios de vontades, poemas e versos...

Um romance é criação sobre dilemas...

então, é por isso mesmo, que ele pode valer a pena...

mas como podemos ter certeza do que não vai acontecer....

a realidade é criada num tear, a realidade é um eterno tecer...

E francamente, em que inferno estaríamos, 

se não pudéssemos assim o fazer?

ralleirias - Fragmentos -2013

subjetivo

Nosso olhar subjetivo, pode nos levar além das certezas instantâneas 

e seu derivado entendimento, sobre o que supomos ser um fato...

Uma nova informação, pode completar um mosaico que ainda não 

estava compreensível, e então, neste possível pequeno lapso, entramos 

num vórtice de espaço-tempo, nos ligando ao passado e transformando 

conjecturas antigas, levando-as para um novo patamar de entendimento 

sobre o presente ... 

Tudo pode ser mudado, por uma nova compreensão e um único momento, 

o futuro, agora partirá de uma nova base no presente.

Porem, a lucidez alcançada, também pode não causar nenhuma revolução... 

Essencialmente o que se aprende, é apenas sobre a própria 'navegação', 

nunca será possível cruzarmos por águas já passadas novamente... 

e mesmo que tudo aconteça, apenas na mente, ainda nos caberá 

tomar a decisão. É uma semente, em eterna brotação, esta nossa percepção...

ralleirias - crônicas das lutas de classe 2014

Emerge

 Emerge o Amor, 

junto da certeza e do medo.

A certeza, como algo sempre revelado...

Estar e ser, com o ser amado.

E o medo? Para o bem da felicidade, 

é melhor que fique de lado...

Mas não, nunca em segredo...

ralleirias -Meta teatro

Na prática.

Na prática

o mundo se constrói dentro de nossas certezas, 

ainda que pífias e vagas sobre quem pensamos 

que podemos ser

na prática

o medo se vai com a clareza, de que as derrotas são

como as vitórias, passageiras na referência dum imaginário 

que serve a todas as voláteis vontades

na prática

O mundo melhora facilmente, é nas pequenas coisas

no carinho em cada gesto, na sinceridade da boa intenção

de um amor sem cobranças, doado integralmente

na prática

Não é fácil salvar-se dum existir condenado a repetição 

de erros do passado que são gritados na nossa existência 

de forma impertinente 

na prática

assim deslocados num real pautado por ilegítimas verdades, 

não é nada fácil ser gente

na prática...

ralleirias... crônicas das lutas de classe

numa viagem

 Melhor companhia numa viagem? 

talvez a paisagem... 

melhor bagagem? 

os bons pensamentos... 

e um livro , que é um descanso eficiente... 

e se a saudade aperta, eis então a grande descoberta...

a minha casa, é o meu pensamento!

ralleirias -fragmentos ( 2013)

horizonte

 Eu, bem comum... num horizonte, 

até tu, um algo complexo...

E nesta fronteira até ele, seremos nós.

Ó vós, para eles, nos evoca mais nexo. 

ralleirias - Solipsismos

vai

De tudo o que acaba 

e se vai ao nada. 

no que se ignora ou mede 

do que cabe ou excede ...

Todo e qualquer algo 

que se transforma

é só a norma...

ralleirias - Solipsismos

me falou

Quando o discípulo está pronto eis que surgirá um mestre...

E disse ainda, que o mestre não é necessariamente um guru, 

o mestre pode ser uma obrigação, uma dura prova, e mesmo 

uma paixão ou um evento marcante ou um livro...

pois o conhecimento que procuramos, não vai ser implantado 

em nossas cabeças... a sabedoria tem que ser um despertar... 

ela virá de dentro, e brotará em meio aos medos e as pretendidas 

certezas do mundo próprio de cada um... e provavelmente 

somente será percebida, quando o conhecimento alcançado 

for um dia testado.

E esse saber, agora já está latente em meio à muitas 

camadas de ignorância, adquiridas como se fossem reais 

certezas, de um mundo construído em enganos...  

este guru só inspirará e assim, nos apontará a direção, 

pois o caminho deverá ser percorrido, 

e ainda que nem sempre conscientemente 

por ninguém mais que o próprio ente..

...foi então isso que o guru me falou. 

Crônicas das asceses místicas -2013

Tão vago

 Tão vago o infinito...

Nem por isso me limito 

apenas à contempla-lo...

Parto num salto da mente, 

não é o caso de estar descontente...

mas, é tão somente para testa-lo...

meta teatro - 2013

talvez

 O talvez..  carrega um mundo complexo, latente...

Supõem-se possibilidades

em forma de sementes...

E que forças aplicadas resultarão eficientes?

Muito ou pouco ou quase nada, tem com ser persistente. 

O talvez é o próprio caos como força emergente.

- Meta teatro (2013)

bem no meio!

 Em que lugar existe, qual pessoa?

A  realidade parece, insiste acontecendo à toa...

Pela falta de atenção... talvez. 

qual  o 'ser' que pensa, fala, anda, 

e, pensa que fala e anda... na boa... 

com alguma lucidez...

Vai sorvendo o tempo 

em cada palavra, desatento... 

e assim, até ser a bola da vez...

É que o momento traga a hora, 

o real, se vai embora 

na draga do não agora...

E o que faz um acontecer?

Nossas vontades, em riste, 

nas noções de verdade, 

na cena posta do instante 

que aparece obstante uma

numa narrativa do tempo 

como movimento de um feitor 

e a consciência se instala no instante

num logos obediente para ser operante 

e falar sobre si... num delírios de que 

sabe aonde vai.... devaneio que é arte

que faz a sua parte, que vive e se satisfaz....

Estamos todos à mercê das vontades destas palavras

que nos dizem quem somos e aonde estamos em todo este devaneio

- Somos os tolos necessários e estamos em ferrolhos, 'Lá'... bem no meio!

 ralleirias - meta teatro (2017)

no que der...

 Do gostar, e do não gostar,

do que é bom e do que é o belo...

O que faz do gostar um poderoso elo.

E é sincero...no faz, e no não faz, 

se compraz...

E morre pra tudo que não quer.

Mas, morre também no que der...

- meta teatro

consentimentos

 Aonde emana verdade?  

Talvez no silêncio.

Mora ela neste espaço 

aonde ele ocorre grato, 

em paciência e permissão.

Desenvolvimento do perene 

aceitar tudo ou nada, como for.

E nada escapa de sua natureza 

de abarcar sem esforços.

Aonde é o aqui? 

É como o 'Ali' também, mas

somete à partir 'deste' aqui...

então e daí, além. 

Será nos sentimentos 

o lugar destes 

desenvolvimentos

do além perceber, acreditar?

Mas todos os sentimentos 

são como consentimentos 

de qual quem, o ou que 

está a notar?

- crônicas das asceses místicas

horizonte

Vontade 

é um horizonte 

da identidade

para onde 

são feitas estradas 

com as verdades 

já previamente 

determinadas

pelas possibilidades 

da própria linguagem.

E assim se faz 

em destino 

cada passo 

dado, e

o caminho, 

o caminhante, 

o caminhado.

-meta teatro

aos poucos

 E então 

estas entidades vieram 

e aos poucos, 

nos foram devorando.

Nossos corpos, almas, 

identidades e mundos.

E agora, nascíamos entre eles  

com as mesmas fomes e dores 

e da mesma forma, 

destruíamos os outros 

e devorávamos 

os seus mundos...

- meta teatro

lugar

Caminho, não é como lugar,

ainda que possa levar

para qualquer parte,

contudo, não leva a

lugar nenhum, o lugar

do ponto de chegada

é mesmo lugar de onde

se faz qualquer partida,

da vontade de um

novo agora quando

de fato é parida.

Esconder-se de si, dento

de uma busca ficcional sobre

caminho é criar um lugar fractal

que cabe em tudo mas nunca

define nada sozinho...

Vim ver o sol

Vim ver o sol....

E a lua também.

Eu vim ver o sol

e a lua eu vi também.

Eu vim viver do sol 

e vim viver da lua, 

também

Vim viver o sol 

e a lua também...

E como ser 

entre seres, serei.

Como um ser 

entre os seres, serei.

Como um ser 

entre os seres, 

um eu, eu serei..

um eu, eu serei, 

eu serei, 

eu serei! 

ralleirias - aonde está o blues

Cariátide

 

Teu templo, teu mundo, teu momento...

Tu como cariátide, pela firmeza e certeza no teu pensamento.

Tão certo como sustentas miríades de diferentes mundos...

É mais certo, que possas ruir à qualquer momento...

Existirás eternamente, até que sobrevenha 

sobre este teu imenso universo, 

um muito maior e completo esquecimento.

Mantenhas vivo agora o propósito que ostentas, 

não fuja da hora, honra este complexo momento. 

ralleirias 2013